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CICLO POSSE E PODER
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O Ciclo Posse e Poder define a presente génese artística do Colectivo 84 para os anos de 2009/2010, pois considera-se esse um tema vasto, político e estético, onde um manancial de conceitos e ideias se entrecruzarão e juntarão entre a reflexão e o palco. Interessa-nos um imaginário e espaço experimental e conceptual que destaca o Corpo enquanto linguagem, a sexualidade enquanto língua, e a questão da moralidade e dos limites, assim sendo, da Representação. Até onde a imoralidade pode ir como ponto de fuga aos interditos sociais e teatrais? Esta questão foi debatida sobretudo na Performance, que legitimou a linguagem do Corpo e os seus excessos expressivos. No Teatro, talvez devido às suas fortes convenções históricas e institucionalizadas, esse universo permanece como um campo obscuro onde se cruzam a “censura informe do público” e a “leveza do fazer artístico”.
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Se a Performance nos anos 50/60 (EUA/Europa) tentou dar voz ao corpo e criar-lhe uma linguagem autónoma, tornando-o um elemento complexo na sua semiótica, fê-lo como momento de ruptura abrupta e violenta, como se opera uma qualquer revolução que se quer desfazer do passado. Podemos citar os artistas do Actionismo Vienense como agentes de ruptura pelas suas escolhas radicais de representação, cujo corpo era tido como uma plataforma da dor, apelando à sua reapropriação por parte do indivíduo em relação a Deus, entidade que possui a autoridade, e a Posse sobre o corpo. Ao alvejar-se com um revólver, Günter Brus afirma que o seu corpo lhe pertence. Estas experiência extremas de Günter Brus, Otto Muehl, Joseph Beuys, Hermann Nitsch, Rudolf Schwarzkogler, tiveram seguidores posteriores, mais ou menos directos nas suas ideologias e estéticas (Gina Pane, Marina Abramović, etc).
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Se os inícios da Performance se basearam na violência extrema, nas sevícias ao corpo e na exploração do choque, essencial para a mudança de paradigma da Representação, hoje essa reflexão sobre o corpo é mais ou menos pacífica e inserida nos estudos académicos. Tendo em conta a história das artes performativas, pretendemos, no Teatro, explorar e dissecar o Corpo ora utilizando as convenções teatrais, ora desviando-nos desses limites e gozar, como acontecia nos “acontecimentos performativos”, do potencial verdadeiro da representação, do “verosímil” entendido como “verdadeiro”.
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O Colectivo 84 expressa o seu interesse em, por um lado, apostar na nova dramaturgia portuguesa, através da encenação de textos originais de Mickäel de Oliveira e, por outro, ir ao encontro de uma «escrita de palco» através da estética cénica de John Romão.
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