84

2011/12
CICLO DECADÊNCIA & FRUIÇÃO

A economia é o motor da vida e quando aquela entra em decadência, a vida segue-lhe o passo. Sem qualquer julgamento moral, vários pensadores vêm desde finais da década de 90 proclamando o fim do império ocidental, com o reerguer de antigas e novas potências económicas. Ao velho continente, opõe-se massas trabalhadoras organizadas e novos consumidores que redefiniram a balança financeira mundial, assim como desenharam novas realidades económicas e artísticas – lembremos o poder económico e a criação de novos pólos artísticos nos países que dão nome ao BRIC. A Europa, e Portugal em particular, encontra-se numa fase delicada da sua História, em que, através de crises financeiras e económicas sucessivas, o discurso decadente impera, ano após ano, na literatura, no cinema, no teatro, na filosofia, como se a “intelligenstia” ocidental estivesse a assistir ao seu próprio empod(b)recimento. Discurso que foi justificando a fome que se espalha de uma maneira galopante, o Estado Social que retrocede na sua ambição do pós-Segunda Guerra Mundial e os próprios meios que os países têm para sustentar alguns dos seus ministérios, cuja função é, em termos simples e históricos, entregar bem-estar às populações. O Colectivo 84 pretende explorar toda a forma de decadência, analisar e propagar o discurso da decadência, alindo-a à sua paradoxal e fiel companheira de armas: à arte, à fruição. Esse olhar sobre a decadência, e de certo modo sobre o sofrimento, será sempre acompanhado de uma meta-reflexão sobre o próprio discurso da decadência, manipulado, manipulador e sedutor. O tema “Decadência&Fruição” surgiu, pela primeira vez, na nossa última produção: MORRO COMO PAÍS (estreia Festival Citemor 2010, Montemor-o-Velho), concebido a nível cénico e textual a partir do texto do dramaturgo grego contemporâneo Dimítris Dimitriádis, e que congregava já todos os elementos supracitados, convocando a ideia de país ruído pela corrupção e pela guerra civil, que conseguiu inverter a lógica de toda a lei e moral humanas. Todas os espectáculos de 2011 têm no seu centro temático a noção de decadência, de apodrecimento de uma estrutura pública (estatal e afins) ou privada (familiar).



APOSTA NA DRAMATURGIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA

Ao pensar na concepção dos ENCONTROS DE NOVAS DRAMATURGIAS CONTEMPORÂNEAS (SLTM 2010), projecto que assumiria uma configuração de festival, deparámo-nos logo com o vazio que os festivais deixam para trás. Por este ser um projecto bienal, a nossa proposta foi a de pensarmos uma espécie de festival contínuo que se prolongasse para lá dos três dias. Assim, o ano de 2011 verá a continuação do projecto através da publicação dos textos e da sua digressão por vários países europeus e pelo Brasil. A digressão incluirá os textos de pequeno formato que encomendámos a treze dramaturgos portugueses, cujas traduções, para francês e alemão, foram trabalhadas durante os ENCONTROS. Cada língua teve a sua respectiva oficina: a primeira foi coordenada por Ilda Mendes dos Santos e a segunda por Vera San Payo de Lemos e Marianne Gareis (apoio Goethe Institut). O CICLO DE NOVA DRAMATURGIA PORTUGUESA promoverá em Portugal e no estrangeiro as escritas de autores como José Maria Vieira Mendes, Tiago Rodrigues, Paulo Castro, Miguel Castro Caldas e Pedro Eiras. Enumeram-se as cidades e sugerem-se ainda estruturas com as quais existem já acordo: CITAC (Coimbra); Teatro Helena Sá e Costa (Porto); Rio de Janeiro (BR), Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto; Belo Horizonte (BR), Espaço Aberto Pierrot Lunar; Liège (BE), Théâtre de La Place; Genebra (CH), Comédie de Genève. Outras estruturas provenientes de Paris e Berlim irão associar-se ao projecto. Mickael de Oliveira assina os textos dos espectáculos CLITEMNESTRA (Menção Honrosa do Prémio António José da Silva, TNDMII/Inst. Camões/FUNARTE), encenado por Nuno M. Cardoso, numa co-produção com o Cão Danado, e HORROR (OU BREVE ESTUDO SOBRE A PARALESIA), em parceria com o escritor Valter Hugo Mãe, com direcção de John Romão. Paulo Castro irá igualmente escrever e encenar o espectáculo MASSACRE. Depois da encenação de John Romão de AGAMÉMNON – VIM DO SUPERMERCADO E DEI PORRADA AO MEU FILHO, de Rodrigo García, a nossa aposta na divulgação do dramaturgo e encenador hispano-argentino (cujos textos são inéditos em Portugal) continuará com ANJINHOS, num registo de teatro radiofónico, com um parceiro privilegiado: a RDP Antena 2.



INTERNACIONALIZAÇÃO

O 84 assume-se como uma estrutura sem casa, em movimento em Portugal e fora das suas fronteiras, e em rede, fazendo parte da plataforma de difusão de nova dramaturgia europeia CORPS DE TEXTES. Em 2011/12, as produções do Colectivo 84 irão ter uma digressão e convidados internacionais: o CICLO DE NOVA DRAMATURGIA PORTUGUESA tem já marcadas várias cidades europeias e brasileiras; a co-produção da peça MASSACRE, cujo Paulo Castro virá da Austrália para montar o espectáculo com John Romão, sabendo que este irá igualmente viajar até terras australianas para as apresentações do mesmo; e, somando a estas ligações em rede, o 84 destaca a colaboração artística do encenador italiano Romeo Castellucci, para a criação da peça HORROR, com direcção de John Romão.