HIPÓLITO
monólogo masculino sobre a perplexidade
Texto: Mickael de Oliveira
Direcção e espaço cénico: John Romão
Interpretação: John Romão e Martim Barbeiro
APRESENTAÇÕES
Desenho de luz: José Álvaro Correia
Desenho de som: Francisco Pessanha e Jorge Pina
Colaboração coreográfica: Victor Hugo Pontes
Colaboração cenográfica: Rita Álvares Pereira
Assistência de direcção: Alexandra Sargento
Crianças retratadas em cena: André de Carvalho, Francisco Monteiro, Merlin Ferreira, Muhamed Kemoko, Nuno Pereira
Fotografias das crianças: Martim Ramos
Fotografias de cena: Eduardo Matos
Produção: Ágata Alencoão e Lara Silveira
Assistência técnica: Mariana Vasconcelos
Co-produção: Murmuriu, Negócio/ZDB, Colectivo 84
Apoios: Alkantara, Companhia Clara Andermatt, Câmara Municipal de Almada, ESTC, Fundação Calouste Gulbenkian, Re.Al, Teatro Municipal Maria Matos, Teatro Municipal S. Luiz
14 Fevereiro 2009, 21h30, Fórum Municipal Romeu Correia (Almada);
1 a 11 Abril 2009 (quarta a sábado), 21h30, Negócio/ZDB (Lisboa);
18 e 19 Abril 2009, 21h30, Teatro Helena Sá e Costa (Porto).
SINOPSE
Numa linguagem assumidamente brutal, crua e pornográfica, este texto trata, como o nome indica, do mito de Fedra - que envolve a sua “vítima” - Hipólito. Nas versões clássicas, a vitimização de Hipólito efectua-se através de uma lógica falocêntrica e falocrática, sendo Fedra o motivo feminino trágico, o elemento anómalo social e familiar. Neste Hipólito, Fedra, a imagem feminina que antes era ímpia, frágil e doente, surge aqui como uma mulher que se impõe, uma mulher que age e que ama: «Não percebo porque é que ninguém fala das mães pedófilas / Será que elas não existem / Elas são iguais aos homens mesmo no mórbido / Elas também podem matar / Podem atirar ao lixo / sem grande transtorno / as suas próprias progenituras ou então afogá-las / com dois dias de vida e congelá-las / É por isso que hoje sou feminista / Porque acredito na igualdade dos géneros / tanto na bondade como na crueldade». O discurso de Fedra não se inscreve no formato das clivagens entre os sexos, esta Fedra é uma madrasta contemporânea, com “vontade de amar o seu filho com as mãos” e de satisfazer o seu desejo nele. Assim, em vez de ouvirmos o relato de Fedra, o autor propõe que se oiça o relato da vítima que passará ao longo dos anos de abusos sexuais, a ser igualmente o predador, para castigar a "trindade" da casa: Teseu, Fedra e ele próprio.
A cena, habitada por um homem e uma criança, cria tensões físicas e um conflito visual, oscilando entre um sentido trágico e perverso e um sentido lúdico, que se confundem facilmente. No monólogo fala-se da infância, entre testemunhos da brutalidade de que foi vítima, do amor infantil para com a sua madraste e da confissão de um filho de pai ausente. O falso monólogo surge como uma manifestação e uma provocação no modo como o mito é reescrito, e é também uma homenagem ou uma recordação aos casos de pedofilia e de incestos que temos vindo a assistir nestes últimos anos, alimentando-se de um trabalho de patchwork de alguns depoimentos verídicos de vítimas.
Numa linguagem assumidamente brutal, crua e pornográfica, este texto trata, como o nome indica, do mito de Fedra - que envolve a sua “vítima” - Hipólito. Nas versões clássicas, a vitimização de Hipólito efectua-se através de uma lógica falocêntrica e falocrática, sendo Fedra o motivo feminino trágico, o elemento anómalo social e familiar. Neste Hipólito, Fedra, a imagem feminina que antes era ímpia, frágil e doente, surge aqui como uma mulher que se impõe, uma mulher que age e que ama: «Não percebo porque é que ninguém fala das mães pedófilas / Será que elas não existem / Elas são iguais aos homens mesmo no mórbido / Elas também podem matar / Podem atirar ao lixo / sem grande transtorno / as suas próprias progenituras ou então afogá-las / com dois dias de vida e congelá-las / É por isso que hoje sou feminista / Porque acredito na igualdade dos géneros / tanto na bondade como na crueldade». O discurso de Fedra não se inscreve no formato das clivagens entre os sexos, esta Fedra é uma madrasta contemporânea, com “vontade de amar o seu filho com as mãos” e de satisfazer o seu desejo nele. Assim, em vez de ouvirmos o relato de Fedra, o autor propõe que se oiça o relato da vítima que passará ao longo dos anos de abusos sexuais, a ser igualmente o predador, para castigar a "trindade" da casa: Teseu, Fedra e ele próprio.
A cena, habitada por um homem e uma criança, cria tensões físicas e um conflito visual, oscilando entre um sentido trágico e perverso e um sentido lúdico, que se confundem facilmente. No monólogo fala-se da infância, entre testemunhos da brutalidade de que foi vítima, do amor infantil para com a sua madraste e da confissão de um filho de pai ausente. O falso monólogo surge como uma manifestação e uma provocação no modo como o mito é reescrito, e é também uma homenagem ou uma recordação aos casos de pedofilia e de incestos que temos vindo a assistir nestes últimos anos, alimentando-se de um trabalho de patchwork de alguns depoimentos verídicos de vítimas.
« Só achava que eras mais velha
não porque eras superior moralmente
ou porque já tinhas passado por coisas que nunca passei
porque também passei por coisas que tu nunca passaste
mas sabia que eras mais velha porque as marcas das vacinas
que tens na pele do braço eram maiores
diferentes das minhas que são mais pequenas
E essas marcas são a prova de que o tempo passou »
(Hipólito, Mickael de Oliveira)
não porque eras superior moralmente
ou porque já tinhas passado por coisas que nunca passei
porque também passei por coisas que tu nunca passaste
mas sabia que eras mais velha porque as marcas das vacinas
que tens na pele do braço eram maiores
diferentes das minhas que são mais pequenas
E essas marcas são a prova de que o tempo passou »
(Hipólito, Mickael de Oliveira)